Por que se autoentrevistar?
— Perdoe a breguice: não quero passar o sentimento de auto importância. Nem o de autocomiseração. Não passa de um exercício.
Você se vê como crítico?
— Sou, no máximo, aspirante a amador. Diletante pra mim soaria muito pretensioso.
Seu artista favorito?
— O que eu estiver lendo no momento, muito provavelmente.
Uma frase?
— “Diferente de tudo, como tudo”. (Caeiro)
Seu objetivo na vida?
— Ter um ar-condicionado.
Último filme que mais te impactou?
— Some Came Running, de Vincente Minnelli.
Uma faixa?
— Don Quixote, de Milton Nascimento.
Uma cena de filme?
— “Your lips are soft” (Rebel Without a Cause de Nicholas Ray).
Suas qualidades?
— Irônico e humilde. Sou a pessoa mais humilde que conheço.
Defeitos?
— Retraimento e conflito com a sensação da necessidade de me explicar.
Uma anedota?
— “Certa vez”, disse Jean-Luc, “um estudante chegou a Lubitsch e lhe perguntou como é que fazia para filmar comédias tão perfeitas como Design for Living. Respondeu o alemão: filme as montanhas, meu caro amigo; quando tiver aprendido a filmar a natureza, saberá filmar o homem.”
Um texto?
— Sobre a contradição, das cinco teses de Mao.
Pessoa que admira?
— Meu amigo Pedro e meus tios.
Tomaria com quem um café?
— Machado de Assis, Bob Marley, Manoel de Oliveira, Rogério Sganzerla, João Bénard da Costa, Frantz Fanon, James Baldwin, Jards Macalé.
Do que você desgosta?
— 1. Mosca; 2. Mosquito; 3. Calor excessivo; 4. A ideia de o calor ser anti-civilizatório; 5. O nome Leandra; 6. Panelinha; 7. Cabotinismo.
Um desejo vago?
— Ser um pássaro e não fazer senão cantar.
Um conto?
— Brincadeira de Antôn Tchékhov.
Uma profissão?
— Ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Um título de filme?
— Deus Sabe Quanto Amei.
Um titulo de livro?
— Esplendores e misérias das cortesãs (não li).
Um autor intragável?
— Pierre Corneille.
Um filme dos sonhos?
— Filoctetes de Sófocles transposto “sans le savoir” num faroeste: sendo Monty Clift o Neoptólemo, John Wayne o Odisseu e James Stewart o Filoctetes. Diretor: talvez, Anthony Mann.
Escreve por quê?
— É um hábito para mim como o “hábito” de beber água, e eu escrevo por não ter coisa melhor que fazer.
Prato perfeito?
— Arroz, feijão, pimenta, farofa, ovo, salada e legumes e carne de panela desfiada.
Café da manhã perfeito?
— Café preto, tostex de pão e queijo, dois ovos cozidos amassados com sal e pimenta e azeite, e banana com aveia e mel e morango.
Um tradutor?
— Paulo Henriques Britto.
Um tênis?
— Asics Gel Sonoma 15-50.
Uma prosa?
— A de Púchkin.
Um livro que quer ler?
— O Idiota.
Um filme que quer ver?
— Napoleão de Abel Gance.
Amador?
— Jean Douchet, Stanley Brakhage e Maya Deren.
A qualidade própria de uma boa obra?
— As grandes obras redefinem qualidade e dão a descobrir suas qualidades próprias.
Quelé vótre plu gran ambicion?
— …